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Boa prática de educação no Ceará

  • Quinta-feira, 24 de maio de 2007, 07h35
  • Última atualização em Quarta-feira, 25 de julho de 2007, 09h53

Fortaleza (CE) - Em sala de aula, a professora de português pede aos alunos que levem, de casa, rótulos de embalagens que contenham palavras com o dígrafo lh. Cada aluno chega com seu rótulo e o cola no mural. A professora dá explições sobre ortografia. No mesmo quadro e com os mesmos rótulos, a professora de matemática pede aos alunos que pesquisem os preços dos produtos. Em outra aula, elabora uma situação-problema para ser resolvida por eles.

É assim que funciona o Mercadinho, nome dado ao cartaz de rótulos elaborado pela Escola de Ensino Fundamental Maria Alacoque Bezerra de Figueiredo, no município de Barbalha, Ceará. O mural, que auxilia no aprendizado de português e matemática das crianças da quarta série, foi uma das boas práticas analisadas no estudo Aprova, Brasil, realizado em 2006 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Ministério da Educação.

Apesar das dificuldades e da carência do bairro no qual está localizada, a escola foi uma das 33 que obtiveram melhores notas na Prova Brasil, exame nacional que avaliou, em 2005, alunos da quarta e da oitava séries do ensino fundamental de escolas públicas. O desempenho na quarta série da escola cearense foi de 200,15 em português (o máximo é 350) e de 237,98 em matemática (máximo de 375). A média nacional em português foi 172,9 e em matemática, 180.

As boas notas são atribuídas ao esforço para manter os alunos atentos ao ambiente em que se encontram e para que eles aprendam com as coisas simples do dia-a-dia, como explica a coordenadora pedagógica Danniely Batista. Ela afirma que o desempenho poderia ser ainda melhor se a escola tivesse um espaço mais adequado para o desenvolvimento das atividades. “A infra-estrutura da escola deixa um pouco a desejar”, admitiu. Segundo ela, o prédio foi reformado recentemente, mas ainda há muito a ser feito, como a construção da biblioteca e a ampliação de algumas salas. A parte externa precisa de reparos. As ruas que levam à escola não são asfaltadas, e os alunos vão a pé para as aulas.

Família — Outro problema são os lares desestruturados. A maior parte dos alunos tem famílias desunidas ou são crianças abandonadas pelos pais. Por isso, sempre que o aluno falta à aula sem aviso dos responsáveis, a coordenação tenta entrar em contato. Se não tiver resposta, uma professora vai à casa da criança. Caso o estudante apresente dificuldades no aprendizado, os coordenadores relatam o caso à Secretaria de Educação, que manda um psicólogo à escola.

Os pais dos alunos são, em geral, analfabetos ou não conseguiram terminar os estudos. É o caso de Tereza Cristina da Silva, mãe de Patrícia D'Ávila, nove anos, estudante da quarta série. Mãe solteira, Tereza freqüentou a escola só até a oitava série, mas não quer o mesmo futuro para Patrícia e seu outro filho, Davi, de 15 anos, que cursa o ensino médio em outro estabelecimento. “Deus me livre de eles ficarem sem estudar”, disse Tereza. “Em casa, sempre oriento a Patrícia em suas tarefas e fico feliz em ver que a escola incentiva as crianças a ter interesse pelas aulas.”
Reforço — A escola oferece aulas de reforço, principalmente, em leitura e escrita. Por isso, os alunos de oito anos, com poucas exceções, já sabem ler e escrever. Assim, a idade dos estudantes corresponde à série em que eles efetivamente devem estar. Os alunos da quarta série, por exemplo, têm entre nove e dez anos.

O colégio tem um projeto cultural, criado e coordenado, há quatro anos, pela professora Maria de Barros Mendonça com a ajuda voluntária da filha, Elaine Mendonça. Juntas, elas formam grupos de alunos para cantar, dançar, recitar poesias e fazer apresentações nas escolas de Barbalha e de outras cidades ao redor do município.

Depois do Aprova, Brasil, já surgiu uma nova prática na escola, o detalhamento das atividades, que funciona como agenda semanal dos professores. É um subprojeto do programa municipal Barbalha Letrada e Alfabetizada. A cada semana, os professores têm que elaborar em sala de aula uma atividade cultural extra, diferente, relacionada ao ensino da língua portuguesa.

Letícia Tancredi

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