José Clementino Neto é professor de português da rede municipal de Aracoiaba, interior do Ceará. Aos 27 anos, realiza o sonho de criança, quando via os professores como heróis. “Na segunda série, eu não sabia ler, mas a professora de português dedicou-me atenção especial. Hoje, adoro ler”, assegura. Tanara Machado, 19, mora em Santana do Livramento, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Ela se prepara para cursar pedagogia.
Tanto Clementino quanto Tanara conseguiram vaga na Universidade Aberta do Brasil (UAB), rede de instituições federais que oferecem cursos de educação superior a distância.
Aracoiaba nunca teve oferta de educação superior pública. Apenas em 2006, Santana do Livramento recebeu um campus da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Com a chegada da UAB, Tanara e Clementino aproveitaram a oportunidade e estão ansiosos para receber o diploma de uma universidade federal. “A Universidade Aberta está aí para mostrar que uma educação de qualidade pode chegar ao interior do país”, diz Clementino. O estudande de letras (português) pensou em deixar sua cidade para estudar na capital, mas conseguiu passar no vestibular da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele já tinha iniciado o curso em uma faculdade privada da cidade, mas não teve condições de pagar pela conclusão.
Para Tanara, tudo é novo. “É a minha primeira vez numa universidade. Nunca pensei que pudesse estudar de graça”, comemora. O curso de pedagogia do poló de Santana do Livramento é vinculado à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Por isso, a mãe de Tanara, a diarista Geneci Machado, 50, não precisa se preocupar. “Minha outra filha se formou em direito após dez anos. Vendi até a geladeira e a televisão para pagar as mensalidades”, conta, emocionada.
A escolha do curso a distância não se deveu apenas à gratuidade. Tanara e Clementino acreditam que essa modalidade de ensino permite, além da flexibilidade de horários, um comprometimento maior com os estudos. “Como não há a presença diária do professor, pesquisamos muito mais e aprofundamos as disciplinas”, diz Clementino, que incia o segundo semestre em março.
Tanara também começa a estudar em março e não esconde a expectativa. “Quero que comece logo porque vou dividir o que aprender com as crianças. Vou me dedicar muito”, garante. Ela já conseguiu um estágio na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Santana do Livramento e vai ajudar a ensinar crianças com necessidades especiais. “Sem a entrada na universidade, isso não seria possível”, destaca.
Pólos — Nos pólos de apoio presencial, os alunos freqüentam aulas mensais, na presença do professor, e podem utilizar os laboratórios de ensino e pesquisa. “Eles podem vir quando quiserem”, explica João Antero, coordenador do pólo de Aracoiaba, que funciona desde julho de 2006 e hoje reúne 94 alunos nos cursos de letras, administração e licenciatura em química.
Em Santana do Livramento, o pólo está aberto desde agosto de 2007. Os alunos cursam agricultura familiar, pedagogia, especialização nas tecnologias da informação e comunicação (TIC) e em educação especial. Para Antero, o maior ganho da Universidade Aberta é a descentralização da educação superior pública. “Considero o aspecto de inclusão. A universidade estava muito centralizada na capital, e muitas famílias não têm condições de sustentar um filho fora da cidade. A UAB vai ao encontro dessa ansiedade.”
Manoela Frade
*Republicada com alteração de informações