O Brasil e outros seis países de língua portuguesa devem firmar acordos para estabelecer ações que diminuam o analfabetismo e fortaleçam a educação de jovens e adultos (EJA). Esta foi uma das conclusões do primeiro dia de discussões da Oficina para a Cooperação Sul-Sul; Educação de Jovens e Adultos nos Países de Língua Portuguesa, nesta segunda-feira, dia 14, no Naum Plaza Hotel, em Brasília. Participam do encontro representantes de Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Consolidar cooperações técnicas já existentes e constituir uma rede de parcerias entre os países, com uma agenda de ações conjuntas estão entre os objetivos da oficina, uma iniciativa do Ministério da Educação, da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC).
“A idéia é fazer um plano de cooperação multilateral, não bilateral”, afirmou Timothy Ireland, diretor do Departamento de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC). O Brasil, segundo Ireland, já tem parceria com Moçambique para alfabetizar jovens e adultos. Este ano, serão formados gestores e formadores naquele país, em quatro oficinas. A idéia agora, porém, é substituir a cooperação individual pela soma de esforços para saber o que cada país pode oferecer ao grupo das nações lusófonas.
“É necessário construir políticas para trazer os adultos jovens de volta à escola”, afirmou o secretário-executivo-adjunto do MEC, André Luiz de Figueiredo Lázaro. Ele lembrou que o Brasil ainda tem 60 milhões de pessoas que não completaram o ensino fundamental e que metade delas nem sequer concluiu a quarta série. “Temos ainda 14 milhões de analfabetos absolutos”, disse Lázaro.
Ajuda — Na opinião do chefe da Assessoria Internacional do MEC, Alessandro Candeas, apesar de o Brasil ter esses números na educação, pode ajudar a diminuir o analfabetismo nas nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). São fatores de sucesso nessa perspectiva, segundo Candeas, o peso democrático da alfabetização no Brasil, a engenharia institucional — o diálogo do MEC com várias estatais e a sociedade civil — , a avaliação da qualidade e a visão sistêmica das ações educacionais. “A educação de jovens e adultos parte de um projeto de desenvolvimento nacional de educação continuada.”, afirmou.
O assessor especial da Unesco para a educação, Célio da Cunha, destacou que o fato de o português ser falado entre os países que participam da oficina favorece a formação dos professores e de estratégias para as comunidades de aprendizagem. Ele Lembrou que é preciso estabelecer novo patamar do conhecimento que não se esgote em projetos. “É importante termos políticas de cooperação entre nações de língua portuguesa que assegurem a continuidade das ações”, disse.
Índices — Os países africanos que participam da oficina apresentam altas taxas de analfabetismo. De acordo com Alberto Sobrinho, representante de Angola, 60% dos angolanos maiores de 15 anos de idade ainda são analfabetos, numa população total de 15 milhões de habitantes. “Enfrentamos uma guerra de 30 anos, que só acabou há três anos”, lembrou.
Os participantes da oficina entendem que as universidades podem dar sua contribuição para diminuir o analfabetismo e avançar na educação de jovens e adultos nos países da CPLP. Daí a importância da participação do Fórum das Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais (Faubai). “Representamos 153 universidades e queremos criar parcerias, otimizar ações e compartilhar boas práticas de educação com países em desenvolvimento”, disse Luciane Stallivieri, presidente do fórum.
A oficina será realizada até quinta-feira, dia 17. Serão abordados temas como financiamento, formação e condições de trabalho do alfabetizador, material de ensino e incentivo à leitura, estatísticas, monitoramento, avaliação e formação profissional.
Na quarta-feira, 16, às 17h15, será lançado o Relatório Conciso de Monitoramento Global de Educação para Todos, da Unesco. Na quinta, às 8h30, os participantes conhecerão a experiência em alfabetização do Centro de Educação Paulo Freire, de Ceilândia, Distrito Federal.
Mais informações pelos telefones (61) 2104-9382 e 2104-9401.
Repórter: Susan Faria