A possibilidade de levar o conhecimento a outras pessoas mudou a vida de Leandro Luiz Ferreira Abrahão, mais conhecido como “Do Norte”. Aos 23 anos, ele é bolsista do programa Conexão de Saberes e leva ao município de Mangaratiba, Rio de Janeiro, todo o conhecimento que acumulou no curso de engenharia florestal da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O Conexão de Saberes é um programa da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC), executado em parceria com a Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC).
Nos fins de semana, Leandro ensina os chacareiros de Mangaratiba a intercalar o plantio de árvores frutíferas com o de árvores nativas da Mata Atlântica. Às crianças, na escola que funciona aos sábados e domingos dentro do Programa Escola Aberta, ele ensina redação, artes e artesanato. Essa é a obrigação que o jovem tem. Em troca, recebe do Ministério da Educação uma bolsa mensal de R$ 300 do Conexão de Saberes, que destina recursos para ampliar a permanência de alunos carentes na universidade.
A atividade de Abrahão é um exemplo de como as ações do MEC podem estar unidas. Os programas Escola Aberta, Conexão de Saberes e Coletivos Jovens de Meio Ambiente são iniciativas voltadas para os jovens. Nesta segunda-feira, 3, começou o primeiro Seminário Nacional de Educação Ambiental na Escola Aberta, que promove a integração entre as três ações.
A idéia é capacitar os bolsistas do Conexão de Saberes para que dêem aulas de educação ambiental nas escolas abertas nos fins de semana. “Queremos que a juventude tenha uma base de conhecimentos para tratar de assuntos como o aquecimento global, por exemplo”, explica Francisco Potiguara, diretor de articulação institucional do MEC. O seminário, que vai até sábado, 8, conta com a participação de 110 alunos de todo o País.
Exemplo — No caso de Abrahão, a integração entre as três ações ocorreu naturalmente. A trajetória dele é tão extensa que parece não caber em seus 23 anos. Nascido no Rio de Janeiro, ele foi para Alagoas aos 11, quando os pais se separaram. Desde então, trabalha para ajudar no sustento de casa. “Já trabalhei na roça, no comércio, em loja de bicicleta, vendendo doces e em restaurante, mas sempre estudei e fui bom aluno”, conta.
Na periferia de Alagoas, aos 16 anos, presenciou a morte do melhor amigo, que foi atingido no rosto por quatro balas. “Fiquei com muito medo. Parei de trabalhar e só ia à escola. A violência do bairro me paralisou”, lembra. Depois de quatro tentativas, o estudante conseguiu chegar à universidade, mas as dificuldades não acabaram. “Achei que tudo estivesse resolvido, mas estava só começando”, relata.
Como precisava levar dinheiro para casa, o trabalho era uma necessidade que dificultava seus estudos. Com a bolsa do Conexão de Saberes, Abrahão teve condições de estudar e se manter na universidade sem ônus para os pais. Com a integração entre as três iniciativas do MEC, ele pode ensinar conceitos de educação ambiental em Mangaratiba, onde dá aulas aos sábados e domingos. “Eu já fazia isso, mas agora vou traçar um plano de aula direitinho. O meio ambiente tem pressa”, ressalta.
Ana Guimarães