As universidades federais de Brasília, Minas Gerais, Sergipe e Bahia abrem este ano 220 vagas em cursos de licenciatura em educação do campo. Elas integram um projeto-piloto do Ministério da Educação que pretende abrir cursos específicos de formação de professores para trabalhar nos anos finais do ensino fundamental e médio nas escolas rurais do país.
O primeiro curso, ministrado pela Universidade de Brasília (UnB), selecionou 60 educadores populares e de movimentos sociais e sindicais do campo das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. O curso será de quatro anos, desenvolvido em oito etapas semestrais que somam 3.525 horas. A formação se alterna em etapas presenciais denominadas Tempo-Escola, que acontecem em regime de internato, com oito horas diárias de atividades num período que varia de 40 a 60 dias por semestre; e fases, chamadas Tempo-Comunidade, em que os alunos aplicam a teoria à prática, desenvolvem pesquisas ou mobilizam a comunidade onde residem e trabalham.
De acordo com Lais Mourão, uma das coordenadoras do curso da UnB, a universidade fez parceria com o Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (Iterra), do Rio Grande do Sul, que tem 12 anos de experiência na área, para construir seu projeto pedagógico. “A parceria vai ajudar a UnB a se capacitar na formação de educadores do campo”, diz. No desenvolvimento do projeto, o Iterra oferece sua estrutura física e pedagógica onde acontecem as aulas, oficinas, atividades coletivas e a UnB participa com professores, pesquisadores, tutores e os recursos repassados pelo MEC, além de definir linhas de pesquisa e produção de materiais didáticos e pedagógicos. As aulas do Tempo-Escola ocorrem no Instituto de Educação Josué de Castro, em Veranópolis, região serrana do Rio Grande do Sul.
Com cerca de 500 inscritos para o vestibular do curso, a UnB selecionou 60 estudantes, sendo 42 do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, 12 de assentamentos do Vale do Jequitinhonha (MG), três de São Paulo, um do Rio de Janeiro e dois do Distrito Federal.
Inovação – Com projeto pedagógico inovador, o Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (Procampo) pretende articular conhecimento teórico e prática. Para atingir esse objetivo, a licenciatura é multidisciplinar com abordagem de quatro áreas: linguagens e códigos – onde o aluno adquire formação para trabalhar em português, literatura e artes; ciências da natureza e matemática, que capacita para lecionar matemática, química, física e biologia; ciências humanas e sociais, para trabalhar com filosofia, sociologia, história, geografia; e ciências agrárias.
No currículo do curso da UnB, diz a coordenadora Anna Izabel Costa Barbosa, da Faculdade de Educação, nos primeiros quatro semestres, o aluno recebe formação nas quatro áreas do conhecimento e no quinto semestre faz opção por uma área. No projeto-piloto, a opção de formação específica se restringirá à linguagens e códigos e à ciências da natureza e matemática.
Procampo – É uma iniciativa da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) que visa formar educadores para trabalhar nas escolas rurais e aumentar o tempo de escolaridade das pessoas que vivem no campo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2006, indicam que a escolaridade média da população do campo é de quatro anos, enquanto que a dos que residem na área urbana é de 7,3 anos.
Um dos caminhos para aumentar e qualificar a educação do campo, explica Marise Souza Carvalho, da coordenação-geral de educação do campo da Secad, é formar educadores capazes de dialogar com esse segmento e construir currículos e materiais que atendam suas necessidades. Para o projeto-piloto, cada uma das quatro universidades públicas vai receber R$ 240 mil em 2008 para custear as despesas do curso. Para desenvolver pesquisas, produzir conhecimentos, materiais didáticos e pedagógicos, cada universidade receberá R$ 300 mil para aplicar em quatro anos.
Ionice Lorenzoni
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