Uma planta virtual com controle real e um curso de espanhol para cegos mostram a vitalidade dos colégios técnicos na Mostra Nacional de Educação Profissional e Tecnológica. A exposição integra a primeira conferência nacional do setor, que começou neste domingo, 5, em Brasília, e termina na quarta-feira, 8. Na mostra, 77 instituições estão representadas, entre centros federais de educação tecnológica, escolas agrotécnicas, colégios técnicos e universidades.
O estudante Estevam Miranda, do Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (Coltec/UFMG), por exemplo, levou para o estande um protótipo que torna as aulas práticas do professor Antônio Claret dos Santos mais divertidas e esclarecedoras. As professoras Marinez de Souza Tamburini Brito e Angélica Moura Siqueira Cunha, do Colégio Técnico da Universidade Federal do Maranhão (CT/UFMA), exibiram o projeto de curso de espanhol e de oficina de artes visuais para cegos.
Estevam explica que a planta virtual substitui a real e mostra como o sistema de atuação do controlador funciona. O mecanismo pode ser usado em qualquer tipo de controle industrial, como para acionar semáforos, levantar cancelas em estacionamentos e ajustar a temperatura de tanques. Os alunos do Coltec aprendem, primeiro, as funções do controlador para passar a programá-lo. Uma versão do projeto de Claret foi mostrada por Estevam na feira de ciência e tecnologia do colégio, em 2005. O controlador foi utilizado pelo estudante para mostrar o funcionamento de um semáforo inteligente, que modifica o tempo de acionamento do sinal de trânsito de acordo com o fluxo de veículos na via.
Espanhol – A professora Marinez conta que despertou para a educação especial recentemente. Foi em março de 2005 que surgiu a proposta de criar o Proyecto Allende. O nome, que significa 'romper barreiras', define o conceito do curso: ensinar a língua espanhola para cegos da escola e da comunidade. Atualmente, 65 alunos estão inscritos em cinco turmas, das quais três têm estudantes com problemas de visão.
Para a oferta do curso, materiais pedagógicos tiveram que ser montados e jogos, construídos. Todos feitos pela professora, que usa areia, papelão, cartolina, cola e plástico para fazer apostilas, relógios e jogos. Até livros falados foram gravados para a utilização em sala de aula.
O projeto, apoiado pela responsável pelo Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (Napnee), professora Angélica Moura Siqueira Cunha, inclui um estagiário, o estudante Thiago Augusto dos Santos de Jesus. Angélica justifica a proposta e lembra dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), que revelam que o ingresso de estudantes com necessidades especiais nas escolas cresce 28,1% ao ano. “O processo de inclusão é irreversível e cada região tem que construir seu modelo, de acordo com suas especificidades”, afirma.
Demanda – Ela conta que a abertura do Napnee elevou as demandas por cursos para estudantes com necessidades especiais. Os professores tiveram que se adaptar. Marinez teve que se capacitar em curso de cem horas promovido pelo Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual do Maranhão (CAP). “Eu nunca imaginei trabalhar com cegos”, diz. Ficou tão entusiasmada com o novo campo de atuação que hoje já pensa em trocar de área no programa de mestrado que pretende fazer: de lingüística para educação especial.
Em outra frente, Angélica conta com o apoio dos estudantes de Belas Artes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Durante 30 horas, em agosto de 2006, 15 estudantes trabalharam a percepção das artes visuais com três cegos da escola e 12 da comunidade. Nessa oficina, quadros de Tarsila do Amaral e de Picasso tiveram que ser reconstruídos em alto relevo para ser mostrados aos alunos. Angélica aprovou a experiência e já planeja montar cursos de outras áreas do conhecimento.
Rodrigo Farhat