Porto Alegre — Robôs e fogão de energia solar compõem o cenário da pequena sala do segundo andar da escola municipal de ensino fundamental Lauro Rodrigues, em Porto Alegre. Apesar de atender alunos de baixa renda em área considerada violenta pela guarda municipal, a escola é exemplo.
O professor de ciências Antônio Toffoli resolveu explorar ao máximo a chance que a secretaria municipal de Educação ofereceu em 2006. Na época, foram distribuídos nas 92 escolas da rede kits para montagem de pequenos robôs, computadores e softwares. Assim que o projeto foi implantado, já em 2007, a escola se destacou. Os alunos envolvidos receberam menção honrosa na feira de iniciação científica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul pelo trabalho realizado.
Os meninos montaram réplicas de máquinas, como retroescavadeiras, e de animais e conseguiram reproduzir os movimentos de cada um. “Os robôs são feitos com peças lego, nas quais são acoplados chips de programação que respondem a estímulos de luz, som ou tato”, explica o aluno Yuri Correa, 14 anos. Yuri está na oitava série, mas não quer deixar o projeto no ano que vem, quando concluir o ensino fundamental. Com ele, outros 16 estudantes reúnem-se todas as quintas-feiras, depois das aulas, e aos sábados para acelerar o projeto.
“Eles adoram vir para a escola. São muito dedicados”, elogia Toffoli. Segundo o professor, a iniciativa ajuda a desenvolver as potencialidades de cada um e ainda estimula o raciocínio lógico. “Eles têm dois desafios: montar o robô e fazer a programação”, acrescenta.
Na mesma sala dos colegas da robótica, Cíntia da Silva, 14 anos, participa do projeto de eficiência energética — muitos alunos estão nos dois grupos. Para ela, participar do projeto representa um incentivo para ir à escola. A menina sofre de diabetes e precisou enfrentar cirurgia para colocação de marca-passo. “Eu só ficava em casa, mas agora participo de um projeto importante na escola”, conta.
Eficiência energética — Desde 2003, o professor Toffoli coordena um grupo de alunos interessados em desenvolver hábitos mais eficientes de utilização da energia. Cíntia faz parte desse grupo. Naquele ano, os estudantes conseguiram diminuir o consumo de energia da escola em mais de 9%. Este ano, construíram um protótipo de forno movido a energia solar. “Observamos que o aquecimento de água consumia muita energia da escola”, revela o professor. O forno foi feito a partir de fileiras de pequenos espelhos, cujo foco é um ponto comum. “Conseguimos aumentar 54 graus na temperatura em 20 minutos”, destaca Toffolli.
Como parte das atividades do projeto, os alunos tiveram de monitorar os gastos de energia da escola e os hábitos de consumo em casa. Eles aprenderam a calcular o consumo de energia de um aparelho elétrico e elaboraram cartazes, folderes e adesivos com dicas para economizar energia. Agora, pretendem refazer o projeto do forno movido a energia solar, de maneira que fique mais leve e que os espelhos, hoje fixos, possam se movimentar de acordo com o sol.
Maria Clara Machado