A Amazônia é uma região exaltada em prosa e verso pela literatura brasileira, com destaque para a coragem e a beleza dos seus habitantes. A mídia internacional sempre afirmou que aquela região é o “pulmão do mundo”. O fato é que ela desperta a cobiça de vários países desde o descobrimento do Brasil. Em 1827, o ouro da região era a borracha, tanto que nos registros da época o produto aparece na pauta de exportação com um embarque de 30 toneladas.
Na nova versão do Projeto Rondon que chegou à região, os estudantes universitários não estão especificamente preocupados com a exportação indiscriminada da borracha, mas em levar informações à população e promover ações que melhorem a qualidade de vida, o que envolve saúde, meio ambiente, combate a doenças endêmicas, boa alimentação e, principalmente, cidadania.
Durante o trabalho dos rondonistas, alguns fatos, características e personagens foram marcantes.
Maromba — No município de Manaquiri (25 mil habitantes), o gado é abatido na maromba, espécie de curral, sem nenhuma higiene. A carne é manuseada no local e distribuída normalmente para o consumo sem passar por nenhum processo de refrigeração ou controle da vigilância sanitária.
Fome — Na sala de espera do pequeno hospital da cidade, uma repórter aborda um senhor que aguardava atendimento e aparentava ter cerca de 70 anos. “O senhor não está bem?”, perguntou ela. “Não, senhora, eu não tenho nada. Vim aqui pra ver se o dotô mi interna. Tô com muita fome”, informou o ancião.
Emprego — No pequeno município de Caapiranga, a 120 quilômetros de Manaus, o orçamento anual da prefeitura é de R$ 5,2 milhões. Segundo o prefeito, o pagamento dos 700 funcionários municipais consome R$ 2,5 milhões do total de recursos (ou seja, praticamente a metade do orçamento). Detalhe: não há mesas nem cadeiras para todos.
Transporte escolar — Em Manaquiri, o prefeito afirmou que gasta 30% da receita com transporte escolar e 48% com a folha de pagamento. O orçamento do município é de R$ 10 milhões anuais.
Rondonista — “A versão antiga do Projeto Rondon era assistencialista. Hoje, o objetivo principal do programa é fazer o levantamento e apontar soluções para os problemas encontrados.” A afirmação é do coronel da reserva Lauro Bastos, 70 anos, primeiro coordenador do Rondon, lá em 1967, e criador da frase “Integrar para não entregar”. Mesmo aposentado, ele continua trabalhando no projeto.
Índio — Um fotógrafo que fazia a cobertura do projeto achou o modelo perfeito ao descobrir um pequeno índio, de cinco anos, que delicadamente brincava com uma rosa vermelha. Disparou várias vezes o flash e já preparava outro cenário para o modelo quando percebeu que a criança estava comendo a flor. “Puxa vida, você comeu o meu cenário”, disse o profissional ao indiozinho.
Política— Causou surpresa o fato de várias crianças em idade escolar, em três cidades ribeirinhas do Amazonas — Caapiranga, Manaquiri e Bela Vista —, não conseguirem dizer quem é o presidente da República. Uma delas até tentou: “É Pedro Álvares Cabral?”.
Repórter: Sonia Jacinto