Água de poço e luz de velas faziam parte do cotidiano dos professores que trabalhavam em áreas rurais há cerca de 70 anos. Não havia luz elétrica nem água encanada. Essa realidade foi vivida de perto pela professora Jandyra Leal Diehl, 93 anos, de Porto Alegre, quando foi lecionar em Linha Oito, pequena localidade de colonização polonesa em Ijuí, no noroeste do Rio Grande do Sul.
Formada pelo Colégio Bom Conselho, em 1932, com o título de bacharelanda complementarista, Jandyra deu aulas de química em escola particular durante alguns anos até que, em 1937, fez o primeiro concurso para professores promovido no estado. Foi classificada em 68º lugar entre os 1,8 mil aprovados. Naquela época, o professor tinha de fazer dois anos de estágio no interior antes de ser nomeado. A localidade era designada de acordo com a classificação obtida no concurso e procurava levar em conta a proximidade da família. Jandyra foi mandada para Linha Oito, a 400 quilômetros da capital, por um erro ocorrido na publicação dos resultados.
Ao terminar o primeiro ano do estágio, o professor podia escolher outra localidade, mas Jandyra preferiu permanecer em Linha Oito, onde dava aulas para o antigo quinto ano primário. O pequeno vilarejo, com apenas uma rua, e três casas de alvenaria, dispunha de uma casinha de madeira para cada educador, mas ela preferiu morar na própria escola, com as demais professoras, para ficar acompanhada e ter mais segurança.
No fim do segundo ano, os professores eram enfim nomeados, embora devessem fazer mais um ano de estágio em uma cidade de sua própria escolha. Jandyra preferiu, então, ir para São Gabriel, no sudoeste do estado, onde vivia seu noivo. “Depois de poucos meses, a diretora da escola entrou de licença para ganhar bebê, e assumi a direção. Fui a escolhida entre as outras 18 professoras que já trabalhavam lá há mais tempo”, conta. Quando a antiga diretora retornou, não quis mais exercer a função — preferiu ficar mais tempo em casa, com o filho. “Aí, permaneci no cargo por sete anos.”
Para acompanhar o marido, que precisou mudar de cidade por exigência do trabalho em uma instituição bancária, Jandyra também trabalhou em Rio Grande e em Porto Alegre. Naquele tempo, ser professora era o único emprego considerado aceitável para moças “de família”. Além disso, a profissão era conceituada e as professoras, muito respeitadas, tanto pelos estudantes quanto pelos pais. E o salário, muito bom.
Lembrada, até hoje, por inúmeros alunos, Jandyra diz que, antigamente, os estudantes tratavam as professoras de maneira “bastante respeitosa e correta”. Ela cita, com carinho, Luiz Odorizzi, que seguidamente a visita. “Ele veio de uma cidade da colônia italiana para trabalhar e estudar em Porto Alegre”, destaca. “Sabia a gramática, porém sua pronúncia não era adequada. Prontifiquei-me voluntariamente a corrigi-lo, e hoje é com grande satisfação que vejo sua inesquecível gratidão.”
Fátima Schenini
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