“Aqui tudo é pedagógico”, resume um dirigente municipal de educação do município de João Monlevade (MG). A frase, na verdade, poderia ser repetida por redes de ensino de todo o Brasil. Pois nos sistemas que dão certo, o aluno é o centro das atenções e o direito de aprender é uma garantia.
Essa foi a principal conclusão da pesquisa Redes de Aprendizagem – boas práticas de municípios que garantem o direito de aprender, a ser divulgada nesta terça-feira, 25, em Brasília.
O foco na aprendizagem é realmente um fator de sucesso que destaca um sistema de outro. E inúmeras foram as explicações e ações encontradas pelos pesquisadores do Unicef, que reforçam o compromisso com o aprender de todos e de cada um.
No estado de Minas Gerais, os pesquisadores visitaram cinco municípios que são exemplos de boas práticas: Santa Rita de Caldas, Lagamar, Divinópolis, João Monlevade e Rio Piracicaba.
No município de Santa Rita de Caldas, por exemplo, as decisões são tomadas em conjunto. Em início de ano letivo, há uma reunião com representantes de todas as escolas da rede para diagnóstico, avaliação e planejamento das atividades do ano. E cada escola também faz, semanalmente, sua própria reunião para desenvolver essas ações. As escolas trabalham realmente como uma rede de ensino.
Em Divinópolis (MG), o sentimento de coesão também abraça a rede. Lá, o sistema de ciclos foi implantado em 1998, com base nas discussões que antecederam a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em 1996. A rede também conseguiu a aprovação do plano decenal de educação (2004/2013) na câmara municipal. O próprio documento orienta para o objetivo primordial de ensinar bem: contempla metas para formação continuada de professores, a reforma e a ampliação das escolas e inclui ações para aproximação da comunidade. E um detalhe importante coloca as questões partidárias de lado. A rede pede que o plano esteja consolidado e não seja interrompido nem modificado nas mudanças de governo. E este é o conceito que envolve todo o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE): continuidade suprapartidária.
Avaliação ― A pesquisa revelou que a cultura de avaliação e monitoramento do processo de aprendizagem persiste em muitos municípios. Mas, em geral, as redes não têm autonomia nem condições técnicas de avaliar por conta própria. Em João Monlevade, essa cultura está instalada. Uma avaliação externa implantada pela secretaria municipal de educação baliza todas as ações da rede. Provas de português e matemática são formuladas por professores selecionados por um comitê de avaliação, e os resultados servem de base para as escolas planejarem o ano ou solicitarem apoio da secretaria. A secretaria, por sua vez, utiliza os dados para planejar a formação dos professores.
A implantação do sistema de avaliação em João Monlevade enfrentou resistências iniciais. A secretaria contou aos pesquisadores do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) o temor das escolas: “Acreditava-se que a avaliação era punitiva. Hoje, todos a valorizam porque o retorno é imediato”. As provas são aplicadas no mês de novembro aos alunos de 1ª a 8ª séries do ensino fundamental e permitem às escolas saber o resultado de cada um em comparação aos outros estabelecimentos de ensino.
O trabalho de conscientização nunca pára. E a pesquisa mostrou que, de forma geral, os educadores entendem que uma avaliação não desmerece as demais. Ao contrário, se complementam. A sistemática municipal é importante por dar uma resposta rápida para a revisão dos planos educacionais. As redes compreendem que os demais sistemas, estaduais e nacional, são os grandes balizadores das metas. Por isso, os educadores se preocupam em fortalecer a importância das avaliações para os alunos. Geralmente, o estudante precisa de um empurrão para levar mais a sério as avaliações que consideram ser “provas que não valem nota”.
Em Lagamar, um aluno definiu a Prova Brasil como uma avaliação que não qualifica o aluno, mas a escola. “Quero que minha escola vá bem. Neste ano, nós vamos tirar nota melhor que no outro porque estamos estudando muito.” A nota do município na Prova Brasil 2005, séries iniciais, foi 215,9 pontos em matemática e 196,6 em língua portuguesa. Os resultados da Prova Brasil 2007 saem ainda no primeiro semestre deste ano.
Redes de sucesso ― A publicação Redes de Aprendizagem — boas práticas de municípios que garantem o direito de aprender apresenta os resultados de um estudo realizado em 37 redes municipais de ensino de 15 estados, nas cinco regiões do país, selecionadas a partir do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e do contexto socioeconômico dos alunos e de suas famílias. O estudo é um trabalho conjunto do Unicef, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e do Ministério da Educação, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), elaborado no período de outubro a novembro de 2007.
As redes foram escolhidas com base no cruzamento de informações socioeconômicas dos alunos, extraídas do questionário que faz parte da Prova Brasil, com informações dos municípios e com o Ideb. Depois de selecionadas, as redes foram visitadas por pesquisadores que entrevistaram todos os envolvidos no processo, do gestor ao aluno. Entre os objetivos principais do MEC e seus parceiros com a pesquisa, estão identificar boas práticas de redes municipais espalhadas pelo Brasil e oferecer os exemplos para as demais.
Ao analisar as razões apontadas pelos responsáveis pelo sucesso de cada uma das 37 redes, foram identificados dez pontos presentes na maioria delas. Trata-se de um conjunto de ações e práticas articuladas que estão em sintonia com o PDE, lançado pelo MEC em abril de 2007: foco na aprendizagem, consciência e práticas de rede, planejamento, avaliação, perfil do professor, formação do corpo docente, valorização da leitura, atenção individual ao aluno, atividades complementares e parcerias.
Os pesquisadores perguntaram: o que essa rede faz para garantir o direito de aprender? E as respostas foram dadas por gestores, diretores, professores, funcionários, alunos e pais.
Participaram da pesquisa redes de municípios com populações que variam de 6.379 a 788.773 habitantes, representativas da diversidade e dos desafios encontrados nos 5.564 municípios brasileiros.
Assessoria de Comunicação Social