Uma nova estrutura de ajuda aos países pobres entrou na pauta da educação mundial. A proposta, feita pelo Brasil, sugere que os países em desenvolvimento tenham um papel mais ativo, intermediando o processo entre o doador e o receptor de recursos e incentivando assim a cooperação Sul-Sul. A idéia foi bem recebida por todos os participantes do sexto Encontro Ministerial de Educação para Todos do E-9, realizado em Monterrey, México. O evento teve início na segunda-feira, 13.
Trata-se de um mecanismo triangular que envolve países desenvolvidos (doadores), subdesenvolvidos (receptores) e em desenvolvimento. Estes entrariam com o know-how, possibilitando uma aplicação mais proveitosa dos recursos. Isso porque são países que enfrentam, ou já enfrentaram, problemas semelhantes e aprenderam a lidar com, pelo menos, parte deles.
O plano foi apresentado pelo secretário Ricardo Henriques, que representa o ministro da Educação, Fernando Haddad, no evento. Henriques citou exemplos de áreas em que os países do E-9 obtiveram êxito e, assim, poderiam dar sua contribuição: Fundeb, educação de jovens e adultos, formação de professores a distância e Bolsa-Família (Brasil); educação rural (China); educação a distância (Índia); alfabetização (Indonésia); praças comunitárias (México); educação para nômades (Nigéria); entre outros. Um a um, os representantes dos outros países do grupo foram manifestando apoio.
“O objetivo é maximizar as experiências nacionais e legitimar novas parcerias. O triângulo serve para dar credibilidade aos pobres. Os desafios sociais e educacionais são semelhantes”, afirmou Henriques. O secretário pediu que o E-9 assuma papel de liderança no processo e sugeriu o mapeamento e difusão das melhores práticas dos países em desenvolvimento.
Nesta terça-feira, 14, um relato do que foi apresentado e discutido será entregue aos ministros dos países participantes. Será o dia da abertura oficial do evento, realizado no Palácio do Governo de Nuevo León (estado onde fica a cidade de Monterrey), com as presenças do presidente do México, Vicente Fox (foto), e do diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura. Além do Brasil, integram o E-9 Bangladesh, China, Egito, Índia, Indonésia, México, Nigéria e Paquistão. São nações populosas (juntas possuem cerca de 3,5 bilhões de habitantes, mais da metade da população mundial).
O encontro tem quatro objetivos principais: reforçar as iniciativas do E-9 como plataforma central para a cooperação Sul-Sul; promover a troca de práticas de sucesso entre os países do grupo; identificar os desafios para que eles realizem todas as seis metas do Educação para Todos e criar um mecanismo crucial para acelerar seu progresso, como foi recomendado em encontros anteriores.
O tema Educação para Todos foi implantado na agenda educacional em 2000, quando mais de 1.100 participantes de 164 países estiveram em Dakar, Senegal, para o Fórum Mundial de Educação. Dali saiu um documento que reafirmava o compromisso dos governos de fornecer educação básica de qualidade para todos até 2015 ou antes, com ênfase especial nas meninas. Há também um apelo aos países doadores e instituições, para que nenhuma nação seriamente comprometida com a educação básica seja impedida de desenvolvê-la por falta de recursos.
Esse foi o pontapé inicial. Seis anos depois, o Brasil disse que não basta ter o dinheiro em mãos, é preciso saber usá-lo. E colocou sua experiência à disposição.
Repórter: Julio Cruz Neto, enviado de Monterrey